Cientistas querem proibir purpurina e glitter por serem uma ameaça para a vida marinha

Cientistas querem proibir purpurina e glitter por serem uma ameaça para a vida marinha

5 de Dezembro, 2017 0

A purpurina usada nas festas ou trabalhos manuais e o glitter presente nos cosméticos e maquilhagem parecem inofensivos, mas o impacto que podem ter no ambiente está a levar a que vários cientistas peçam a sua proibição.

Acho que todas as purpurinas deviam ser proibidas, porque são microplásticos”, disse Trisia Farrelly, antropóloga ambiental da Universidade de Massey. “E, apesar do seu tamanho reduzido, podem ter um impacto devastador nos seres humanos e nos animais.”

A purpurina faz parte da “família” dos microplásticos – pequenas peças de plástico com menos de 5 mm de diâmetro –, juntamente com as microfibras, as micropartículas de plástico e os pequenos fragmentos deste material resultantes da degradação de resíduos maiores, como garrafas e sacos.

Os microplásticos e a purpurina que são levados pelo vento ou que removemos da pele durante o banho conseguem fazer o seu caminho até aos cursos de água e, eventualmente, até aos oceanos, onde se têm vindo a acumular com o tempo e onde são uma ameaça para a vida marinha.

“Fiquei bastante preocupado quando alguém comprou às minhas filhas um gel de duche que tinha partículas de glitter”, disse Richard Thompson, biólogo marinho da Universidade de Plymouth. Essas partículas vão escapar pelo ralo e possivelmente acabar no ambiente.”

Os cientistas têm documentado a ingestão de plástico por parte de corais, plâncton, peixes, marisco, cetáceos, aves marinhas e outros organismos, algo que pode ter consequências fatais para estes animais.

A maioria da purpurina é feita de alumínio e de politereftalato de etileno (PET). Trisia Farrely tem investigado a forma como o PET pode libertar químicos com efeito de disrupção hormonal nos animais e nos seres humanos. Estas substâncias químicas têm sido associadas ao aparecimento de cancros e doenças neurológicas.


Foram encontrados 47 fragmentos de plástico no estômago de um peixe-porco (SEA / David M. Lawrence)

O plástico também atrai e absorve agentes patogénicos e poluentes orgânicos persistentes. Quando os organismos no fundo da cadeia alimentar, como o plâncton, ingerem partículas de plástico portadoras de agentes patogénicos e poluentes, estes contaminantes podem-se ir acumulando e concentrando à medida que sobem na cadeia alimentar, até chegarem aos nossos pratos.

“Quando comemos peixe e marisco, estamos a ingerir estas toxinas”, explicou Trisia. “Quando entram no intestino, as toxinas e agentes patogénicos são muito facilmente absorvidos.”

 

Segundo um estudo da Universidade de Ghent, os consumidores europeus de peixe e marisco podem ingerir até 11 mil pequenos fragmentos de plástico por ano.

A preocupação com o efeito dos microplásticos no ambiente tem levado vários países – entre os quais os EUA, o Reino Unido, o Canadá e a Nova Zelândia – a proibir as micropartículas nos produtos de cuidado pessoal.


Plâncton ingere plástico, que lhe causa obstrução intestinal

“O plástico está em todo o lado”

Existirão, atualmente, entre 15 e 51 biliões de partículas de microplástico – pesando entre 93 e 236 mil toneladas – nos nossos oceanos.

Os microplásticos têm sido descobertos nos sais marinhos, nos terrenos agrícolas, na água da torneira e até no mel. Sherri Mason, professora da Universidade Estadual de Nova Iorque em Fredonia, resumiu esta situação com as seguintes palavras: “[Os plásticos] são ubíquos no ar, na água, no peixe que comemos, na cerveja que bebemos, no sal que usamos – os plásticos estão simplesmente em todo o lado”.

 


“Maré de lixo de plástico” invade a costa de uma ilha das Caraíbas | Foto: Caroline Power

Boas notícias

Também há notícias boas. No Reino Unido, 19 estabelecimentos de ensino pré-escolar decidiram deixar de usar purpurina nos seus projetos de arte para proteger os oceanos.

“Quando as crianças estão a levar os seus trabalhos manuais para casa e há purpurina nos cartões, [as partículas] soltam-se e são levadas pelo ar até à rua, e é apenas um bocadinho, mas temos 3000 crianças e todas elas estão a fazer trabalhos manuais para o Natal, por isso temos purpurina em todo o lado”, contou Cheryl Hadland, diretora-geral do grupo de creches britânico Tops Day Nurseries.

“Existem 22 000 creches no país, portanto, se estamos todas a usar quilos e quilos de purpurina, estamos a fazer danos terríveis, e o mundo é para estas crianças. Não se pode reciclar a purpurina porque, como é tão pequena, não se pode separar de nada.”

Também há empresas a investir em alternativas mais ecológicas, como a Eco Glitter Fun. A cadeia de cosméticos Lush também substituiu o glitter nos seus produtos por mica sintética, glitter mineral e outras alternativas biodegradáveis.

Sue Kinsey, da Sociedade de Conservação Marinha, felicitou esta medida da empresa, dizendo que “também transmite uma mensagem clara aos seus clientes que, possivelmente, tentarão fazer as escolhas certas noutras áreas das suas compras”.

Trisia Farrelly lembra que, embora seja óbvio que devemos evitar os produtos com purpurina e micropartículas de plástico, as mudanças precisam de vir de cima. Estou farta de que os consumidores sejam responsabilizados, disse. “Os produtores precisam de ser responsáveis. Precisam de usar alternativas mais seguras, não tóxicas e resistentes.”

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